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Crónica do Confinamento: O Luís 

Conheci o Luís em outubro de 2018, quando comecei a intervenção enquanto técnica do Programa Intervenção Precoce na Infância, (IPI) integrado na Equipa Local de Intervenção de Lisboa Central Ocidental. 

Frequenta um Jardim de Infância numa IPSS, numa sala heterogénea com crianças de 3 a 5/6 anos. As principais dificuldades do Luís centravam-se na área da fala com dificuldades na articulação correta de alguns sons, e no comportamento fazendo birras e chamadas de atenção frequentes, desafiando o adulto para aceitar as regras estabelecidas. Apesar disso é uma criança muito afetiva com o adulto e demonstra uma necessidade de uma atenção individualizada, de colo e mimo. 

O Luís vive com os pais. A mãe, tem 45 anos e é cozinheira num Hotel. O pai padeiro de profissão e 40 anos de idade. A irmã tem 18 anos e é estudante. O pai continua a trabalhar, mas a mãe está em casa em exclusivo com o Luís desde o dia 9 de março, primeiro de férias e depois devido ao período de quarentena.

Eu acompanhava  o Luís de IPI semanalmente no Jardim de Infância até 13 de março, a partir daí passei a fazer a intervenção através de contactos frequentes com a mãe por chamadas, sms e  whatsapp para saber as suas preocupações e necessidades, bem como para o envio de estratégias, de forma a ajudar o Luís no seu desenvolvimento, mas também para apoiar a família na nova rotina imposta pelo Estado de Emergência.  

O Luís passou de uma situação em que passava pouco tempo com a mãe, apenas ao fim do dia, quando a mãe regressava do seu trabalho e com pouca disponibilidade para brincar com ele, pela dificuldade em conciliar as tarefas de casa com a atenção que dava ao filho. Mas, neste momento, está 24h com ele e com a irmã. E quando o pai está em casa aproveitam para fazer atividades em família.  

No outro dia, em conversa com a mãe, quando lhe perguntei como é que estava o Luís em termos de birras e comportamento, a mãe reflete que o Luís está uma criança diferente. Diz-me que já não está a fazer mais birras, nem chamadas de atenção, está mais calmo, anda muito feliz e até gosta de fazer as atividades enviadas pelo Jardim de Infância e por mim.

A mãe agora percebe o quão importante é dar atenção ao seu filho, porque ele era uma criança muito agitada e neste momento está mais calmo e brinca o dia todo com satisfação. 

Terminar as tarefas era outra dificuldade do passado. Agora a mãe conta-me que um destes dias ele fez desenhos, recortou e quis colar tudo para mostrar aos pais antes de ir dormir. Apesar de ser tarde, a mãe deixou-o concluir a tarefa o que lhe deu grande satisfação. 

 

Conceição Medeiros, Técnica do programa Intervenção Precoce na Infância 

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